Como advogado e programador eu me vejo constantemente refletindo como essas duas carreiras - advogado e desenvolvedor - são tão diferentes, não apenas quanto à matéria de que tratam, mas como cada profissional lida com a propriedade do trabalho desenvolvido.
Em especial, me chama a atenção como a comunidade de desenvolvedores é engajada no compartilhamento de conhecimento, com notável destaque para os projetos Open Source (código livre ou aberto) em que o trabalho desenvolvido por um programador é modificado, complementado e melhorado constantemente por outros desenvolvedores, dando origem por vezes a programas complexos e únicos que seus criadores originalmente sequer poderiam conceber. Muitos dos grandes projetos na área de tecnologia hoje apenas existem justamente pela colaboração da comunidade de desenvolvedores.
Há plataformas de compartilhamento de conhecimento usadas por praticamente todos os programadores do mundo (Stackoverflow) em que dúvidas de programação sobre todo e qualquer assunto são discutidas diariamente, de forma gratuita, rápida e em um esforço conjunto (quase) altruísta.
Tradicionalmente o advogado aplica todo o seu conhecimento adquirido em horas e horas de estudo, bebendo da fonte representada por doutrinadores de peso e autoridade, combinado com as suas próprias experiências passadas em casos que marcaram a sua carreira para redigir um documento ou tese que é quase uma obra-prima, o Direito em forma de poesia e razão, para que então o seu trabalho único, exclusivo e diferenciado faça toda a diferença ao cativar um cliente satisfeito em um caso de sucesso.
É claro, advogados frequentemente compartilham conhecimento por meio de vídeos, artigos e participação em fóruns de discussão, mas sempre com moderação e nem sempre com um altruísmo tão verdadeiro assim (lembre-se, meu vídeo ou artigo são ótimos, mas procure sempre um advogado! *wink!*)
Regra geral, contudo, as teses, modelos e documentos tornam-se propriedade do advogado e do seu escritório, uma vantagem competitiva em relação aos demais causídicos, e a mera ideia de compartilhamento deste trabalho sem contraprestação beira a violação ética profissional - um absurdo! (contém ironia)
A economia compartilhada tem impactos profundos quanto ao modo com que compramos e consumimos bens e serviços hoje (vide serviços como Uber, em que não é necessário mais comprar um carro ou o AirBnb, no qual não é mais necessário comprar uma casa no campo ou na praia para aproveitar uma bela estadia). Ainda que os efeitos da economia compartilhada sejam mais palpáveis para nós hoje por conta de tantos serviços oferecidos consoante esses modelos, essa realidade é algo relativamente novo, com existência contada de poucos anos.
O mundo do desenvolvimento, no entanto, tem raízes mais antigas quanto ao aspecto colaborativo de código, podendo ser citado o exemplo mais importante na criação do Linux por Linus Torvalds no início da década de 90. Pensar que um sistema de código aberto adaptado por uma pessoa seja hoje uma das principais plataformas existentes no mundo é incrível por si só. Hoje, mais do que nunca, o mundo do desenvolvimento Open Source é vasto e forte, com uma comunidade ativa que cria softwares incríveis constantemente em um esforço conjunto.
Essas novas cabeças querem fomentar uma maior democratização do acesso ao conhecimento e mesmo acesso aos próprios profissionais com o auxílio da tecnologia, e startups na área do Direito (legaltechs ou lawtechs) surgem todos os dias com propostas interessantes para este campo tão conservador, abrindo a mente de advogados para algo diferente.
É a nova geração de advogados, conectados, informados e curiosos, que deixam o terno e a gravata de lado para buscar na tecnologia soluções mais eficientes, rápidas e menos custosas para os seus clientes. Esses novos advogados abraçam as inovações como oportunidades de crescer profissionalmente ao invés de se esconderem atrás de restrições absurdas a novas tecnologias com medo de perder uma reserva de mercado.
A advocacia está mudando, e rápido. Se hoje há uma ojeriza à ideia de compartilhamento de conhecimento, em pouco tempo sofrerá o advogado que não mostrar ao mundo quanto conhecimento tem para distribuir.
/* Fim do post, até a próxima */
O mundo do Desenvolvimento é, em sua essência, colaborativo. ¶
Em especial, me chama a atenção como a comunidade de desenvolvedores é engajada no compartilhamento de conhecimento, com notável destaque para os projetos Open Source (código livre ou aberto) em que o trabalho desenvolvido por um programador é modificado, complementado e melhorado constantemente por outros desenvolvedores, dando origem por vezes a programas complexos e únicos que seus criadores originalmente sequer poderiam conceber. Muitos dos grandes projetos na área de tecnologia hoje apenas existem justamente pela colaboração da comunidade de desenvolvedores.
Há plataformas de compartilhamento de conhecimento usadas por praticamente todos os programadores do mundo (Stackoverflow) em que dúvidas de programação sobre todo e qualquer assunto são discutidas diariamente, de forma gratuita, rápida e em um esforço conjunto (quase) altruísta.
O mundo do Direito é, em sua essência, exclusivo.¶
A comunidade jurídica, no entanto, figura em polo diametralmente oposto.Tradicionalmente o advogado aplica todo o seu conhecimento adquirido em horas e horas de estudo, bebendo da fonte representada por doutrinadores de peso e autoridade, combinado com as suas próprias experiências passadas em casos que marcaram a sua carreira para redigir um documento ou tese que é quase uma obra-prima, o Direito em forma de poesia e razão, para que então o seu trabalho único, exclusivo e diferenciado faça toda a diferença ao cativar um cliente satisfeito em um caso de sucesso.
É claro, advogados frequentemente compartilham conhecimento por meio de vídeos, artigos e participação em fóruns de discussão, mas sempre com moderação e nem sempre com um altruísmo tão verdadeiro assim (lembre-se, meu vídeo ou artigo são ótimos, mas procure sempre um advogado! *wink!*)
Regra geral, contudo, as teses, modelos e documentos tornam-se propriedade do advogado e do seu escritório, uma vantagem competitiva em relação aos demais causídicos, e a mera ideia de compartilhamento deste trabalho sem contraprestação beira a violação ética profissional - um absurdo! (contém ironia)
Há uma tendência global de colaboração. ¶
Com certeza você já ouviu falar de economia de compartilhamento ou economia compartilhada, que é uma tendência tanto no consumo quanto na produção global em todos os campos possíveis. Segundo o Wikipedia (grifo nosso),
"Economia do compartilhamento ou economia compartilhada, são expressões genéricas que abrangem vários significados, sendo frequentemente usadas para descrever atividades humanas voltadas à produção de valores de uso comum e que são baseadas em novas formas de organização do trabalho (mais horizontais que verticais), na mutualização dos bens, espaços e instrumentos (com ênfase no uso e não na posse), na organização dos cidadãos em redes ou comunidades, e que geralmente são intermediadas por plataformas Internet."
A economia compartilhada tem impactos profundos quanto ao modo com que compramos e consumimos bens e serviços hoje (vide serviços como Uber, em que não é necessário mais comprar um carro ou o AirBnb, no qual não é mais necessário comprar uma casa no campo ou na praia para aproveitar uma bela estadia). Ainda que os efeitos da economia compartilhada sejam mais palpáveis para nós hoje por conta de tantos serviços oferecidos consoante esses modelos, essa realidade é algo relativamente novo, com existência contada de poucos anos.
O mundo do desenvolvimento, no entanto, tem raízes mais antigas quanto ao aspecto colaborativo de código, podendo ser citado o exemplo mais importante na criação do Linux por Linus Torvalds no início da década de 90. Pensar que um sistema de código aberto adaptado por uma pessoa seja hoje uma das principais plataformas existentes no mundo é incrível por si só. Hoje, mais do que nunca, o mundo do desenvolvimento Open Source é vasto e forte, com uma comunidade ativa que cria softwares incríveis constantemente em um esforço conjunto.
Há espaço para a colaboração no meio jurídico? ¶
O espírito colaborativo tem espaço na comunidade jurídica? Acredito que sim. Ainda que o Direito seja um campo carregado de tradicionalismo e por vezes com aversão pela tecnologia e o comunitário, vejo com bons olhos a chegada no mercado de profissionais com a cabeça mais aberta, propensos a encarar o Direito como campo fértil para a experimentação e melhorias.Essas novas cabeças querem fomentar uma maior democratização do acesso ao conhecimento e mesmo acesso aos próprios profissionais com o auxílio da tecnologia, e startups na área do Direito (legaltechs ou lawtechs) surgem todos os dias com propostas interessantes para este campo tão conservador, abrindo a mente de advogados para algo diferente.
É a nova geração de advogados, conectados, informados e curiosos, que deixam o terno e a gravata de lado para buscar na tecnologia soluções mais eficientes, rápidas e menos custosas para os seus clientes. Esses novos advogados abraçam as inovações como oportunidades de crescer profissionalmente ao invés de se esconderem atrás de restrições absurdas a novas tecnologias com medo de perder uma reserva de mercado.
A advocacia está mudando, e rápido. Se hoje há uma ojeriza à ideia de compartilhamento de conhecimento, em pouco tempo sofrerá o advogado que não mostrar ao mundo quanto conhecimento tem para distribuir.
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É possível um ambiente colaborativo no Direito?
Reviewed by Octavio Ietsugu
on
junho 17, 2020
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